O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se disse aberto a discutir um acordo com os EUA — e eventualmente a China — para reduzir em até 50% dos gastos militares dos países, ecoando uma ideia apresentada pelo presidente americano, Donald Trump, há alguns dias. Na entrevista, exibida no dia em que a guerra na Ucrânia completa três anos, o líder russo disse “não se importar” com o diálogo entre Washington e Kiev, e garantiu “não ser contra “ a preservação do Estado ucraniano após o fim da guerra.
Na conversa com o jornalista e propagandista Pavel Zarubin, ao canal Russia 1, Putin chamou de “boa” a ideia sobre os cortes militares, fazendo uma abertura ao diálogo com Trump sobre o tema.
— Poderíamos chegar a um acordo com os Estados Unidos. Não somos contra, acho que a ideia é boa. Os EUA cortariam [os gastos militares] em 50%. E nós o cortaríamos. E a China se juntaria a nós se quisesse — afirmou o líder russo. — A proposta é boa, estamos prontos para discussão sobre esse assunto.
No dia 13 de fevereiro, Trump disse que “quando as coisas se acalmarem”, ele buscaria os líderes da China e da Rússia para dizer “que não há razões para que gastemos quase US$ 1 trilhão em defesa”, defendendo um corte de até 50% noas despesas militares.
Para o ano fiscal de 2025, o Departamento de Defesa dos EUA apresentou um orçamento de US$ 849 bilhões — na Rússia, onde os gastos militares não estão concentrados em apenas uma pasta, estimativas sugerem um orçamento total de US$ 461 bilhões em 2024, similar às despesas da China, estimadas em US$ 474 bilhões no ano passado.
A China não se manifestou sobre as declarações de Putin.
‘Questões agudas e complexas’
O líder russo não deu pistas sobre as conversas que mantém com Trump sobre a situação na Ucrânia. Falando a jornalistas na Casa Branca, antes de uma reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron, Trump afirmou que um acordo de cessar-fogo poderia ser anunciado “em questão de semanas” — ao seu lado, Macron destacou que um acerto teria que ser justo, mas que não poderia significar a “capitulação” da Ucrânia.
— Para resolver questões complexas e agudas, incluindo na trilha ucraniana, tanto a Rússia quanto os Estados Unidos devem dar o primeiro passo. Ele deve ser dedicado a aumentar o nível de confiança entre ambos os Estados. Foi isso que fizemos em Riad, e é a isso que os próximos contatos de alto nível serão dedicados — afirmou Putin, se referindo a uma reunião de delegações de alto nível na capital saudita, na semana passada.
Trump sinalizou no passado que um acordo poderia incluir o congelamento do conflito nas atuais linhas, e não descartou a cessão de territórios ocupados pelos russos. O plano deve prever uma força internacional de paz, liderada pelos europeus, como parte das garantias de segurança a Kiev. Segundo o líder americano, Putin “não se opõe” ao envio de tropas estrangeiras ao solo ucraniano após o cessar-fogo.
Durante a entrevista, o presidente russo revelou “não ser contra” a preservação do Estado ucraniano, contrastando com suas declarações questionando o direito à existência da Ucrânia, repetidas e amplificadas por seus aliados.
— Além de tudo o mais, o atual presidente [dos EUA] anunciou que quer alcançar a paz – a propósito, nós também queremos, e o mais rápido possível — disse Putin. — Isso é, muito provavelmente, do interesse da Ucrânia e do Estado ucraniano: a preservação do Estado ucraniano. E não temos nada contra isso também.
Se o líder russo afirmou que o Estado ucraniano não lhe incomoda, o mesmo não se pode dizer da continuidade do presidente do país, Volodymyr Zelensky, no poder. Putin já descartou conversar diretamente com Zelensky por o considerar “ilegítimo”, citando o fim de seu mandato, em maio do ano passado — contudo, a Lei Marcial adotada desde fevereiro de 2022 impede novas eleições e abre caminho para que siga no cargo.
— Do ponto de vista dos interesses de fortalecer o Estado ucraniano, é necessário agir, aparentemente de forma mais enérgica e em uma direção completamente diferente. Levar ao poder pessoas que desfrutam da confiança do povo da Ucrânia — opinou Putin.
A paz na Ucrânia não é uma questão exclusivamente militar para Putin. Na entrevista, ele expressou o desejo de participar de grandes projetos envolvendo empresas americanas. A retomada das exportações de commodities como o alumínio, praticamente suspensas após o início da guerra, serviria para ampliar os lucros em seu país e, afirmou o presidente, exercer “um efeito positivo na estabilização dos preços” nos EUA.
— Se as empresas americanas trabalharem aqui, isso também será benéfico, porque as empresas ganharão decentemente, e os volumes correspondentes de alumínio entrarão no mercado interno [dos EUA] a preços absolutamente aceitáveis — disse o presidente. — Há algo em que pensar aqui, assim como sobre o trabalho conjunto em metais raros, terras raras e em outras áreas, incluindo, por exemplo, energia.