Na quinta-feira (24), o ex-presidente Fernando Collor de Mello teve sua prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decorrência de uma condenação por corrupção relacionada à Operação Lava Jato.
Esse pedido de prisão chega 33 anos após Collor ser destituído do cargo de presidente, em um impeachment que ficou marcado como um marco de combate à corrupção no Brasil. O afastamento definitivo de Collor ocorreu em 30 de dezembro de 1992, pelo Senado Federal.
Collor assumiu a presidência em março de 1990 e, após quase três anos, deixou o cargo e foi sucedido por seu vice, Itamar Franco, que governou até 1994.
O impeachment de Collor foi resultado das denúncias feitas por seu irmão, Pedro Collor de Mello, sobre o tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias. As acusações envolviam um esquema de corrupção, tráfico de influência e reformas realizadas na Casa da Dinda, residência oficial do presidente em Brasília.
Leandro Torelli, historiador e professor, comenta que a queda de Collor foi impulsionada por sua dificuldade em articular politicamente com o Congresso, especialmente após o fracasso do seu plano econômico de combate à inflação.
Collor permaneceu como senador por Alagoas até 2022, quando foi derrotado ao tentar a vaga de governador, sempre se alinhando a novos projetos políticos, como a reeleição de Jair Bolsonaro.
Em junho de 1992, o Congresso instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as acusações de Pedro Collor contra Paulo César Farias. Durante os depoimentos, Pedro afirmou que Farias estava envolvido em esquemas de corrupção e tráfico de influência no governo de seu irmão.
A partir daí, manifestações por todo o país se intensificaram, com a população, principalmente jovens, protestando contra o governo Collor. As manifestações, que ficaram conhecidas como as “Caras Pintadas”, pressionaram pela abertura do processo de impeachment.
Em setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aceitou a denúncia contra Collor, e o impeachment foi encaminhado ao Senado, onde, após o julgamento iniciado em 29 de dezembro de 1992, Collor tentou renunciar, mas não teve sucesso. O Senado aprovou a remoção definitiva com 76 votos a favor e 2 contra. Collor ficou proibido de exercer cargos públicos por oito anos.
Collor é herdeiro de uma família tradicional de Alagoas, com longa trajetória política. Formado em economia, iniciou sua carreira política como prefeito de Maceió em 1979 e, em seguida, foi deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social).
Em 1986, Collor venceu as eleições para governador de Alagoas com um discurso focado no combate à corrupção, o que lhe conferiu destaque nacional. Em 1989, foi eleito presidente da República pelo PRN (Partido da Reconstrução Nacional), tornando-se o primeiro presidente a ser eleito diretamente após o regime militar.
Leonardo Weller, professor da FGV, observa que Collor soube aproveitar a crise do governo Sarney, se posicionando como uma alternativa política, principalmente devido ao fracasso da política econômica de Sarney. Collor conseguiu se apresentar como um outsider, apesar de ter sido parte do sistema político.
A ascensão de Collor ao cargo de presidente ocorreu em meio a um cenário de inflação descontrolada, e o governo dele ficou marcado pela tentativa de estabilizar a economia por meio de um congelamento de preços e contas bancárias, medida que teve um impacto negativo na economia e gerou grande insatisfação popular.
Quando o plano econômico fracassou, Collor perdeu apoio significativo, tanto da população quanto do Congresso, o que contribuiu para a fragilidade de seu governo e para o surgimento das primeiras denúncias de corrupção.
Esse contexto econômico e político foi fundamental para entender a queda de Collor e os desdobramentos de sua prisão recente.