Mauro Cid relata reunião de Zambelli, Delgatti e Bolsonaro sobre fraude nas urnas

De acordo com Cid, o encontro ocorreu pela manhã, conforme relatado: "Foi na hora do café da manhã. Eles chegaram bem cedo

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, o tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, relatou que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) organizou uma reunião entre o então presidente e o hacker Walter Delgatti Neto. O tema central do encontro, realizado no Palácio da Alvorada, foi a possibilidade de fraude no sistema eletrônico de votação utilizado nas eleições de 2022.

De acordo com Cid, o encontro ocorreu pela manhã, conforme relatado: “Foi na hora do café da manhã. Eles chegaram bem cedo. O hacker estava levantando as hipóteses de como poderia ter sido feita a fraude e como se poderia descobri-la”. Ainda segundo o militar, Bolsonaro pediu ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que providenciasse outra reunião com Delgatti para aprofundar a discussão.

Cid também mencionou que tanto Bolsonaro quanto o general Braga Netto mantinham “expectativa” de que alguma irregularidade fosse encontrada nas urnas, o que, segundo ele, poderia desencadear ações por parte das Forças Armadas na fase de transição de governo. No entanto, nada foi comprovado.

“A expectativa é que fosse encontrada uma fraude nas urnas. O que nós vimos era uma busca por uma fraude nas urnas. Com a fraude nas urnas, poderia convencer as Forças Armadas a fazer alguma coisa”, declarou Cid, respondendo ao procurador-geral da República, Paulo Gonet. “Bolsonaro sempre buscou fraude nas urnas”, acrescentou o ex-ajudante.

Em outro trecho do depoimento, Cid apontou que mesmo com a pressão exercida por Bolsonaro sobre o Ministério da Defesa, não foi detectada nenhuma irregularidade no processo eleitoral. A pasta chegou a constituir um grupo especializado para avaliar o sistema eletrônico de votação.

O militar também revelou que Bolsonaro pressionava por uma resposta mais dura por parte das Forças Armadas. Ele afirmou que o presidente esperava um documento mais incisivo, o que acabou sendo objeto de negociação interna. “Essa pressão realmente existia. Ele [Paulo Sérgio] tinha uma conclusão nesse documento voltada para um lado mais técnico, e se tinha a tendência de fazer algo voltado mais político. E no final se chegou a um meio termo que foi o documento produzido e assinado”, explicou Cid sobre o relatório elaborado após o pleito de 2022.

Logo no início da oitiva, o ministro Alexandre de Moraes questionou se houve, de fato, qualquer evidência de fraude. “Não conseguiu se provar nada”, respondeu o tenente-coronel.

Condenação de Carla Zambelli
O STF condenou a deputada Carla Zambelli por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o objetivo de falsificar documentos — incluindo a emissão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Como consequência, Moraes determinou no sábado que o Ministério da Justiça formalize o pedido de extradição da parlamentar, que atualmente se encontra na Itália. A decisão incluiu também a perda de seu mandato e a conversão da prisão preventiva em definitiva.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta segunda-feira que a Casa vai cumprir a ordem do Supremo: “Vamos dar andamento ao rito para cumprir a decisão do STF”, declarou durante um evento sobre o cenário fiscal do país.

Na semana anterior, a Primeira Turma do STF rejeitou por unanimidade o recurso interposto pela defesa de Zambelli contra sua condenação, o que tornou definitiva sua pena. Além dela, Walter Delgatti Neto também foi condenado — ele recebeu pena de oito anos e três meses de prisão.

Dois dias antes da decisão final, Moraes já havia expedido um mandado de prisão preventiva contra Zambelli, após ela anunciar que havia saído do Brasil. Agora, a ordem segue em vigor, mas com início imediato do cumprimento da pena. Delgatti, que já estava preso preventivamente, permanecerá em regime fechado.