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Infância no seringal: Marina Silva relata pressão e vigilância contra abusos

Por Brasil Direto

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, compartilhou lembranças marcantes da infância vivida com a família em Breu Velho, no Acre. Em conversa com a jornalista Maria Fortuna, durante o videocast Conversa vai, conversa vem, disponível no canal do jornal O Globo no YouTube, Marina relatou os temores enfrentados por ela e as irmãs quando eram adolescentes.

Ela mencionou o receio constante diante de comentários feitos por homens mais velhos da comunidade onde viviam, que afirmavam que se casariam com as meninas quando elas crescessem. “Esse medo atravessava o tempo todo as nossas consciências”, contou. Segundo Marina, a mãe sempre alertava as filhas sobre os perigos e orientava como se proteger. “Minha mãe dizia que, se ouvíssemos algum barulho ou alguém chamasse, não era para ir.”

Em outro trecho da conversa, Marina abordou a dinâmica familiar sob a liderança da mãe. “Vivíamos isolados, e eu sabia que outras famílias não eram como a nossa. Até porque, falavam do meu pai: ‘Pedro é mandado pela mulher’.” Ela destacou como foi estranho descobrir, ao sair da floresta, que o mundo seguia uma lógica patriarcal. “Quando cheguei na cidade, vi o discurso de ‘mulher não pode fazer isso ou aquilo’ em todos os lugares.”

Ao falar sobre o papel de sua mãe na criação das filhas, relembrou uma situação difícil. Após uma tentativa malsucedida do pai de migrar para Manaus, que terminou em dívidas, a mãe decidiu tomar uma atitude. “Minha mãe chamou a gente e disse: ‘Vamos mostrar que vocês não são um problema na vida do seu pai, vocês vão aprender a cortar seringa’.” A partir disso, cada filha passou a trabalhar individualmente e, em dois anos, não só quitaram as dívidas como também passaram a ser admiradas na região. “Viramos as moças mais famosas do seringal.”

A ministra também compartilhou um episódio curioso de quando estavam na floresta. Ela e a irmã ouviram um assobio estranho e, assustadas, correram para casa. Depois descobriram que se tratava do canto de um pássaro. “Correram com medo do Uirapuru”, teria dito o pai, em tom bem-humorado.

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