Drones russos deixam 100 mil ucranianos sem eletricidade

Apesar da intensidade dos ataques, não houve registro de vítimas

Sem avanços concretos nas negociações por um cessar-fogo, Rússia e Ucrânia intensificaram ataques aos sistemas energéticos um do outro na noite desta quarta-feira (27).

Um ataque com drones russo deixou pelo menos 100 mil ucranianos sem eletricidade em três regiões do norte do país, que possui cerca de 32 milhões de habitantes. Em retaliação, Kiev atingiu um oleoduto que leva derivados de petróleo a Moscou, partindo de Riazan, cidade localizada a 200 km da capital russa.

No total, a Rússia lançou 95 drones, dos quais a Ucrânia informou ter interceptado 21. Moscou, por sua vez, declarou ter derrubado 26 drones sem detalhar o total lançado, e que os destroços provocaram um incêndio em área residencial em Rostov, no sul do país.

Apesar da intensidade dos ataques, não houve registro de vítimas. Entre os alvos russos, além do blecaute em Sumi, Poltava e Tchernihiv, foram atacadas instalações de bombeamento de gás em Kharkiv, Zaporíjia e Donetsk.

Segundo o Ministério da Energia ucraniano, desde o início do ano a capacidade de geração de energia a partir do gás caiu 40%, e os estoques para abastecer o sistema de aquecimento durante o inverno estão em nível histórico baixo. A situação se agrava com cortes e retomadas de fornecimento de petróleo, além de crise de gasolina no Extremo Oriente russo.

No campo diplomático, o Kremlin se manifestou pela primeira vez após a rodada de negociações iniciada por Donald Trump em encontro com Vladimir Putin no Alasca, seguida de reunião com Volodimir Zelenski e seis líderes europeus na Casa Branca.

O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, afirmou que Moscou valoriza o esforço de Trump, mas não concorda com as exigências europeias sobre uma trégua, reiterando que nenhum soldado da Otan pode integrar força de paz no território ucraniano.

O debate gira em torno das chamadas garantias de segurança, para evitar que a Rússia utilize uma pausa no conflito para retomar ofensivas. Trump defende que europeus liderem a força de paz, com suporte aéreo dos EUA, mas Moscou vê isso como uma entrada indireta da Otan na guerra.

Para Putin, permitir tropas europeias em solo ucraniano seria uma derrota estratégica, já que sua invasão começou para impedir que a Ucrânia se integrasse à aliança ocidental. Segundo fontes próximas ao Kremlin, qualquer proposta de segurança aceita pelos russos tem caráter de ganho de tempo, enquanto avançam em Donetsk.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, deixou claro que Moscou só aceitaria um mecanismo de paz sob controle russo, semelhante ao acordo inicial de março de 2022. Países como França, Reino Unido e nações bálticas se dispõem a enviar tropas, enquanto Alemanha, Espanha e Polônia adotam postura mais cautelosa.

A posição europeia gerou protestos de movimentos pacifistas e pesquisas indicam rejeição da população à força de paz. O premiê alemão, Friedrich Merz, alertou que a Rússia continua sendo a maior ameaça à segurança europeia ao anunciar reforço do serviço militar voluntário.

Trump voltou a afirmar que dará uma a duas semanas para que Putin e Zelenski resolvam a possibilidade de encontro, mas reconheceu dificuldade e manteve sanções contra a Rússia, ressaltando que a Ucrânia poderia ficar isolada caso não haja acordo.

Enquanto isso, Peskov criticou a exposição pública das negociações: “Nós não achamos que seja útil discutir os detalhes sem contexto em público”. O impasse permanece, mas as conversas continuam.