Israel retira indicação de embaixador após impasse com governo Lula

Com isso, o país passa a não ter representação diplomática de nível máximo no Brasil

O governo de Israel decidiu retirar a indicação de Gali Dagan para o posto de embaixador em Brasília, após o Itamaraty não conceder a aprovação formal necessária para a nomeação. Com isso, o país passa a não ter representação diplomática de nível máximo no Brasil, sinalizando que pretende manter o relacionamento em uma esfera inferior.

A notícia foi divulgada pelo Times of Israel e confirmada por um funcionário brasileiro ligado ao tema. O episódio marca mais um capítulo de desgaste nas relações bilaterais e ocorre após meses de impasse sobre o pedido de agrément – autorização formal do governo brasileiro para embaixadores estrangeiros.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, “o pedido foi inexplicavelmente ignorado”. O comunicado indica que, a partir de agora, as relações com o Brasil serão conduzidas “em nível mais baixo”.

Em março, a Folha de S.Paulo já havia revelado que o governo brasileiro retardava a concessão do agrément, elevando o risco de tensão com o premiê Binyamin Netanyahu. O Itamaraty não rejeitou oficialmente a indicação, mas a manteve sem resposta – atitude que, na diplomacia, sugere restrições ou descontentamento com o nome indicado.

O episódio se soma a uma série de tensões recentes. Em 2024, Lula foi declarado persona non grata por Israel após comparar operações militares israelenses na Faixa de Gaza à perseguição de judeus durante o Holocausto.

O relacionamento entre os dois países tem sido marcado por atritos e gestos de distanciamento. Em 2023, o Brasil chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv, depois que o diplomata Frederico Meyer recebeu repreensão pública do então chanceler Israel Katz durante visita ao Museu do Holocausto, e até hoje não enviou um substituto.

Além disso, em julho, o governo brasileiro deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), justificando que a adesão feita pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), havia sido inadequada.

Paralelamente, o Brasil ingressou formalmente na ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça da ONU, acusando Tel Aviv de genocídio em Gaza.

A chancelaria israelense classificou a postura brasileira como “mais um sinal da postura crítica e hostil” adotada pelo Palácio do Planalto desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e desencadeou a ofensiva militar israelense em Gaza.