Assistir dramas estrangeiros pode custar a vida na Coreia do Norte, aponta ONU

Segundo o jornal The Guardian, que teve acesso ao documento, o monitoramento sobre materiais externos se intensificou a partir de 2014 com o auxílio de novas tecnologias

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nesta sexta-feira (12) um relatório denunciando que a Coreia do Norte tem executado cidadãos acusados de distribuir conteúdos audiovisuais estrangeiros, incluindo dramas televisivos sul-coreanos de grande popularidade. A prática faz parte de uma campanha de repressão cada vez mais dura contra liberdades individuais no país.

Segundo o jornal The Guardian, que teve acesso ao documento, o monitoramento sobre materiais externos se intensificou a partir de 2014 com o auxílio de novas tecnologias, enquanto as punições foram se tornando mais severas, chegando à aplicação da pena de morte.

O relatório, de 14 páginas, foi elaborado a partir de depoimentos de mais de 300 testemunhas e vítimas que conseguiram escapar do regime. Eles relataram que as restrições às liberdades cresceram de forma ainda mais intensa nos últimos anos.

O chefe do escritório de direitos humanos da ONU para a Coreia do Norte, James Heenan, afirmou que tanto as execuções por crimes políticos quanto por delitos considerados comuns aumentaram desde o período de restrições durante a pandemia de Covid-19. Ele destacou que entre os mortos estão pessoas acusadas de compartilhar séries estrangeiras, especialmente os populares K-dramas.

O relatório conclui que, desde 2015, novas leis e políticas têm submetido os cidadãos norte-coreanos a uma vigilância constante e a um rígido controle sobre diversos aspectos da vida cotidiana.

Procurada pelo jornal britânico, a missão diplomática da Coreia do Norte em Genebra e a embaixada em Londres preferiram não se pronunciar. O governo norte-coreano, em resposta oficial aos investigadores da ONU, afirmou rejeitar a resolução do Conselho de Direitos Humanos que autorizou a elaboração do relatório.

Além disso, Heenan relatou, a partir de Seul, que até mesmo crianças são forçadas a participar de trabalhos pesados, como minerar carvão ou atuar em brigadas de choque no setor da construção civil.

Apesar da gravidade das denúncias, o documento aponta alguns avanços pontuais, como a diminuição do uso de violência por agentes de segurança em centros de detenção e a criação de novas legislações que, ao menos no papel, reforçam garantias de julgamentos justos.