Delegações da COP30 enfrentam diárias milionárias em navios ancorados em Belém

O custo pode ser mais de nove vezes superior ao de uma viagem de 17 noites até o mar Mediterrâneo

Os preços para se hospedar nos navios fretados para a COP30 em Belém ultrapassam em muito o valor de cruzeiros turísticos tradicionais. O custo pode ser mais de nove vezes superior ao de uma viagem de 17 noites até o mar Mediterrâneo e quatro vezes maior que um pacote de Ano-Novo em Copacabana.

Segundo levantamento feito pela Folha de S.Paulo, os valores oferecidos pela organização da conferência climática da ONU foram comparados às tarifas divulgadas pela MSC e pela Costa Cruzeiros, responsáveis pelos navios contratados. Ambas as companhias informaram que a venda de cabines para o evento é conduzida diretamente pela cúpula da COP30.

A Secretaria Extraordinária da COP30 explicou que foram reservadas 1.600 cabines a preços reduzidos para delegações de países em desenvolvimento e insulares, com diárias que variam entre US$ 220 e US$ 600. Em nota, o órgão destacou que os valores mais altos refletem os custos de logística e de infraestrutura necessários para adaptar os navios a um evento internacional dessa dimensão.

Os preços, contudo, geraram forte repercussão e se transformaram no principal ponto de desgaste da conferência. Dezenas de países chegaram a pressionar o governo brasileiro e a ONU para transferir a sede da COP30, o que foi negado. Como medida alternativa, o Brasil fretou dois cruzeiros – o Seaview, da MSC, e o Diadema, da Costa – que ficarão ancorados no porto de Outeiro, a cerca de 20 km do Parque da Cidade, local das negociações.

No Seaview, uma cabine com varanda para as 17 noites da conferência chega a custar R$ 166 mil, quase dez vezes mais que o valor de um roteiro semelhante até a Europa, que inclui refeições, shows e paradas em cidades como Barcelona, Marselha e Gênova, por cerca de R$ 18 mil. Mesmo pacotes de Ano-Novo, tradicionalmente mais caros, ficam muito abaixo: uma viagem de oito noites passando por Salvador, Búzios e com a virada em Copacabana custa em torno de R$ 24 mil – o que torna a hospedagem na COP quatro vezes mais cara.

As suítes de luxo elevam ainda mais o patamar: na categoria deluxe do Seaview, o custo total para 17 noites ultrapassa R$ 680 mil, com diárias acima de R$ 40 mil. No Diadema, da Costa Cruzeiros, os valores também impressionam: R$ 153 mil por um quarto com varanda durante toda a conferência, enquanto um cruzeiro de Ano-Novo com roteiro por Buenos Aires, Montevidéu e Copacabana custa menos de R$ 20 mil, incluindo bebidas alcoólicas.

Somados, os dois navios oferecem cerca de 4 mil cabines, com capacidade total para pouco mais de 10 mil hóspedes. As unidades mais simples, geralmente destinadas a países com menos recursos, já estão todas ocupadas. Ainda restam vagas em cabines com varanda, mas a procura é alta.

As embarcações contam com restaurantes, bares, piscinas, academias e áreas de lazer, mas, diferentemente dos cruzeiros turísticos, os pacotes da COP30 incluem apenas café da manhã. Além disso, algumas restrições foram impostas: devido a sanções internacionais, cidadãos de países como Irã, Cuba, Síria, Coreia do Norte, Rússia e Belarus não poderão se hospedar no navio Diadema.

O contrato com as companhias vai até 21 de novembro, data prevista para o fim da conferência. Ainda assim, como em edições anteriores a COP se estendeu além do prazo oficial, delegações já questionaram o Brasil sobre alternativas caso seja necessário permanecer mais tempo em Belém. A organização garantiu que haverá realocação de hóspedes se isso ocorrer.