PCC lava R$ 5 bilhões em distribuidora com sócios ocultos chamados Lula e Bolsonaro

Segundo a PF, os lucros eram distribuídos entre quatro sócios ligados à facção, que utilizavam codinomes como Bolsonaro, Lula, Ciro e Obama

Uma investigação da Polícia Federal revelou que a Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool, suspeita de servir como fachada para lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), movimentou ao menos R$ 5 bilhões entre 2019 e 2023.

Segundo a PF, os lucros eram distribuídos entre quatro sócios ligados à facção, que utilizavam codinomes como Bolsonaro, Lula, Ciro e Obama. A empresa, criada em 1988, estava praticamente inativa desde 2017 e registrou faturamento zero em 2019. Formalmente, Celso Leite Soares detinha 99% das cotas desde 1996, e seu irmão possuía 1%.

Entre 2019 e 2020, a Duvale passou a ser adquirida informalmente por Mohamad Hussein Mourad (Primo) e Roberto Augusto Leme da Silva (Beto Louco), ambos foragidos e alvo de mandados de prisão em megaoperações recentes que investigaram a infiltração do PCC no setor de combustíveis e no mercado financeiro.

Embora registrada em São Paulo, a investigação foi conduzida no Paraná, devido a suspeitas de envolvimento com dezenas de empresas multimilionárias na região de Curitiba. Primo e Beto Louco já eram conhecidos por atuar nos “braços financeiros do crime organizado”, especialmente por fraudes no setor de combustíveis.

A escolha da Duvale não foi aleatória: seu histórico no mercado conferia aparência de legalidade e mascarava as movimentações bilionárias. O quadro societário formal não foi alterado, mantendo Celso Leite Soares como sócio de fachada para integrar a distribuição de lucros.

Documentos e conversas interceptadas mostram que a divisão dos lucros ocorria entre quatro sócios: Beto Louco (65%), Primo (15%), Celso Leite Soares (10%) e Daniel Dias Lopes (10%), de agosto de 2020 a início de 2023. A partir de 2022, passaram a usar codinomes, prática típica de organizações criminosas para confundir autoridades.

Daniel Dias Lopes e sua esposa, Miriam Favero Lopes, eram os responsáveis pelas operações financeiras e de lavagem de dinheiro. Diversos pagamentos aos sócios ocultos eram realizados por meio de empresas de fachada, como a ML8 Serviços de Apoio Administrativo, registrada em nome de Miriam. Os repasses milionários não contavam com notas fiscais ou registros de serviços.

Lopes, procurador da Duvale, atuou como elo entre a estrutura no Paraná e facções de São Paulo, estruturando o esquema após deixar o sistema prisional em 2017, onde cumpriu pena por tráfico de drogas.

Todos os principais suspeitos — Celso Leite Soares, Primo, Beto Louco, Daniel e Miriam Lopes — estão foragidos. Procurados, Soares não respondeu, e a reportagem não localizou as defesas dos demais envolvidos.