O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta terça-feira (9) que a pavimentação da BR-319, rodovia de 885 quilômetros que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), finalmente será executada. Segundo ele, ainda neste mês o governo formalizará um “acordo definitivo” com setores ambientalistas para viabilizar a obra.
O projeto, no entanto, divide opiniões. Pesquisadores e organizações ambientais alertam que a reativação da estrada pode intensificar o desmatamento em áreas preservadas da Amazônia e até aumentar riscos de futuras pandemias devido à pressão sobre o ecossistema.
Em entrevista à Rede Amazônica, Lula afirmou que o governo pretende garantir a pavimentação sem repetir erros históricos de expansão predatória. O presidente destacou que a obra será realizada em conjunto com ambientalistas, comunidades locais e representantes das capitais envolvidas, reforçando que Manaus e Porto Velho não podem permanecer isoladas.
A BR-319, defendida há anos pelo governo do Amazonas, é a única ligação terrestre entre Manaus e o restante do país. O traçado cruza áreas de altíssima relevância ambiental: são 13 municípios, 42 unidades de conservação e 69 terras indígenas.
Conflitos políticos e ambientais
O tema já foi motivo de embates dentro do próprio governo federal e no Congresso. Em maio, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, chegou a deixar uma comissão do Senado após ser acusada de travar projetos de desenvolvimento. Lula, ao ser questionado, defendeu a ministra e afirmou que sua atuação não deve ser vista como entrave, mas como uma forma de assegurar que as políticas sejam feitas de maneira correta e sustentável.
Histórico da rodovia
A BR-319 foi construída na década de 1970 durante a ditadura militar, como parte da estratégia de abrir caminhos para a ocupação da Amazônia. Inaugurada em 1976, tornou-se intransitável em 1988, quando grandes trechos foram tomados pela floresta devido à falta de manutenção.
Em julho deste ano, os ministérios do Meio Ambiente e dos Transportes chegaram a um acordo inédito para retomar o debate sobre licenciamento e restauração da rodovia.
Duas semanas depois, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) revalidou uma decisão que havia suspendido a reconstrução do trecho central da estrada, após uma ação movida pelo Observatório do Clima. A rede de organizações da sociedade civil questiona a licença emitida pelo Ibama no último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), argumentando que o processo não observou todos os critérios ambientais.
Segundo o advogado Paulo Busse, representante do Observatório, o governo Lula deve seguir recorrendo para tentar garantir a obra, enquanto o Ministério do Meio Ambiente segue levantando preocupações. Para ele, a gestão federal, com apoio de setores do Ibama e do Dnit, demonstra disposição em retomar a licença, mas a disputa judicial deve se arrastar nos próximos meses.