O braço armado do Hamas anunciou nesta quinta-feira (30) que devolverá os corpos de mais dois reféns israelenses, em meio à crescente tensão após uma nova série de bombardeios ordenados pelo governo de Binyamin Netanyahu sobre a Faixa de Gaza.
Os ataques, realizados dois dias antes, teriam deixado 104 mortos, segundo autoridades palestinas vinculadas ao grupo. O episódio foi o mais violento desde a entrada em vigor do cessar-fogo no último dia 10, evidenciando a fragilidade da trégua.
Tel Aviv justificou a ofensiva alegando que o Hamas violou os termos do acordo, ao simular a devolução dos restos mortais de reféns. Como reação, o grupo suspendeu temporariamente a entrega de um corpo que seria devolvido naquele mesmo dia.
Na quarta-feira (29), o governo israelense anunciou que o cessar-fogo havia sido restabelecido. Diante do novo entendimento, as Brigadas al-Qassam — braço militar do Hamas — comunicaram que fariam a entrega dos dois cadáveres às 16h (11h em Brasília). De acordo com o Exército israelense, a Cruz Vermelha ficou encarregada de recolher os corpos, como tem feito desde o início da trégua.
Mesmo com o anúncio, novos bombardeios foram relatados nesta quinta-feira. Testemunhas ouvidas pela agência Reuters informaram que aviões israelenses lançaram cerca de dez ataques aéreos em Khan Yunis, no sul de Gaza, enquanto tanques dispararam contra regiões a leste da Cidade de Gaza, no norte do território. Até o momento, não há registro de mortos ou feridos.
Em nota, as Forças de Defesa de Israel declararam ter realizado “ataques precisos” contra “infraestruturas terroristas que representavam ameaça às tropas” ainda posicionadas nas áreas ocupadas.
Dos 28 corpos de reféns que o Hamas mantinha sob seu poder, 15 já foram entregues a Israel e puderam ser sepultados por suas famílias. O grupo, porém, alega que os 13 restantes continuam soterrados sob escombros deixados pelos bombardeios israelenses, o que teria dificultado a localização.
A tensão aumentou depois que, na terça-feira, o gabinete de Netanyahu acusou o Hamas de descumprir o acordo, ao entregar um caixão com fragmentos dos restos mortais de Ofir Tzarfati — sequestrado nos ataques de 7 de outubro de 2023 — em vez de devolver corpos de reféns ainda não recuperados. Parte dos restos de Tzarfati já havia sido localizada pelo Exército israelense em uma operação militar anterior.
O Fórum de Familiares de Reféns e Desaparecidos, principal entidade que representa os parentes dos sequestrados, condenou a ação e acusou o Hamas de romper o cessar-fogo firmado. A organização também cobrou uma postura “firme e imediata” do governo israelense diante das violações.
Pelo acordo, o Hamas havia libertado em 13 de outubro os 20 reféns vivos que ainda mantinha em cativeiro desde os ataques de 7 de outubro, comprometendo-se também a entregar 28 corpos de reféns mortos — compromisso que segue sendo motivo de impasse entre as partes.