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Comando Vermelho buscava tecnologia militar para driblar operações policiais

Por Brasil Direto

Uma investigação conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) revelou que o Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio de Janeiro, vinha planejando adquirir drones equipados com câmeras térmicas — tecnologia capaz de detectar pessoas mesmo em áreas escuras ou cobertas por vegetação.

As informações vieram à tona a partir de conversas interceptadas que integram a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), base da megaoperação deflagrada na última terça-feira (28). A ação resultou em 113 prisões e deixou mais de 120 mortos, entre suspeitos e agentes de segurança. Apesar do número elevado de detidos, poucos líderes da facção foram localizados.

Em um dos diálogos obtidos, um dos traficantes reconhece a defasagem de seus equipamentos:

“O meu não é noturno, é câmera normal. A gente precisa ver o térmico.”
Outro responde:
“Temos que nos atualizar com a tecnologia.”

Segundo os investigadores, o objetivo da compra seria fortalecer o sistema de vigilância do grupo e antecipar as movimentações das forças policiais nas comunidades da Penha, além de expandir o domínio da facção em outras regiões do estado.

Base estratégica e avanço territorial

O Complexo da Penha é considerado um dos principais centros operacionais do Comando Vermelho. A localização, próxima a importantes vias de acesso, facilita o transporte de drogas e armas, tornando o local um ponto estratégico para as atividades criminosas. A partir dali, a organização vem ampliando sua atuação na zona oeste, especialmente na Grande Jacarepaguá.

Durante a operação, imagens mostraram homens armados fugindo pela mata, alguns usando roupas camufladas e uniformes semelhantes aos das forças de segurança.

Dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) apontam que, desde agosto de 2020, quando Cláudio Castro assumiu o governo do estado, o Rio de Janeiro registrou 1.846 mortes em operações policiais. Mais da metade das ações mais letais desde 2007 ocorreram nesse período.

Comando interno e disciplina imposta pelo medo

As mensagens interceptadas também revelam uma estrutura de poder fortemente hierarquizada dentro do Complexo da Penha. Havia escalas de plantão, pagamentos controlados e punições severas para quem desrespeitasse as regras. Ordens de tortura e execuções eram transmitidas com naturalidade.

O traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, é apontado como líder do grupo na região. Sua residência era protegida 24 horas por seguranças armados. Ele está foragido. Já Juan Breno Malta Ramos, conhecido como BMW, seria o responsável por conduzir os chamados “tribunais do tráfico”.

Os relatos da investigação incluem cenas de extrema brutalidade: uma mulher teria sido mergulhada em uma banheira de gelo após uma discussão em um baile funk, e um homem foi arrastado por uma moto como forma de castigo. Fagner Campos Marinho, o Bafo, identificado como executor dessas punições, foi capturado durante a operação.

O uso da tecnologia a favor do crime

De acordo com o MPRJ, o Comando Vermelho mantém um sistema de câmeras espalhado por dezenas de comunidades, usado para monitorar a movimentação de rivais e forças policiais. A tentativa de comprar drones com visão térmica representa uma nova etapa na modernização das atividades da facção — que vem adotando estratégias cada vez mais semelhantes às utilizadas por forças de segurança oficiais.

Os promotores afirmam que o tráfico carioca entrou em uma nova fase, marcada pelo uso de tecnologia, táticas de guerra urbana e gestão organizada de recursos, transformando-se em uma rede criminosa de padrão quase empresarial.

A megaoperação da DRE e do MPRJ, resultado de meses de investigação, atingiu parte dessa estrutura, mas os investigadores reconhecem que a facção ainda mantém grande influência em territórios marcados pela vulnerabilidade social e pela ausência do Estado.

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