A Ambev, gigante do setor de bebidas, viu suas ações despencarem nas últimas semanas, acumulando perda de R$ 11,6 bilhões em valor de mercado desde o fim de setembro, mesmo sem ligação direta com a recente crise do metanol, que afetou destilados como vodka e gin — produtos que não integram o portfólio da companhia.
Especialistas afirmam que, embora fosse esperado um aumento nas vendas de cerveja em meio à desconfiança com os destilados, o movimento não ocorreu. Segundo relatório da XP Investimentos, intitulado “Sem Happy Hour”, o cenário para a Ambev é negativo: a corretora rebaixou a recomendação de suas ações de “neutra” para “venda”. De 20 corretoras consultadas pela Bloomberg, apenas três indicam compra.
Entre os fatores que explicam o desempenho fraco estão o clima frio, que reduziu o consumo da “gelada”, e a queda geral no consumo de cerveja no país. O brasileiro, que consumia em média 74 litros por ano, deve encerrar 2025 com apenas 69 litros per capita, marcando uma tendência estrutural de retração.
O movimento “wellness”, impulsionado pela geração Z, também tem influenciado o mercado. Jovens adultos têm priorizado saúde, nutrição e opções sem álcool — e a Ambev tenta acompanhar essa mudança, ampliando sua linha de cervejas sem álcool, cujo consumo cresceu 600% em um ano.
Outro fator de atenção são os inibidores de apetite, como Ozempic e Mounjaro, que podem reduzir o desejo por bebidas alcoólicas. Embora o impacto ainda não seja claro, analistas apontam o fenômeno como risco futuro.
Além disso, a concorrência com a Heineken se intensificou após a expansão da fábrica da rival em Pernambuco, o que deve pressionar preços e margens da Ambev. Apesar do cenário desafiador, uma executiva da companhia afirmou que a empresa está preparada para reagir e que o terceiro trimestre pode representar uma “virada no jogo”, com equilíbrio de preços e retomada gradual da demanda.