A nova reunião de cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin, planejada para discutir o fim da guerra na Ucrânia e questões bilaterais, ainda não tem data marcada. Crescem os sinais de que a realização do encontro, previsto para acontecer em Budapeste, enfrenta entraves diplomáticos e logísticos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta terça-feira (21) que ainda não há definição sobre o encontro e que tanto Trump quanto Putin não estabeleceram datas concretas, ressaltando que o processo exige tempo e ajustes. A declaração contradiz parcialmente o anúncio feito pelo presidente americano na semana anterior, quando ele havia garantido que a reunião ocorreria dentro de duas semanas, após uma longa conversa telefônica de duas horas com o líder russo.
Essa ligação, segundo fontes diplomáticas, teria interferido diretamente na decisão dos Estados Unidos de adiar a entrega de mísseis de cruzeiro Tomahawk à Ucrânia — medida que seria oficializada no dia seguinte, durante a visita do presidente Volodimir Zelenski à Casa Branca.
O episódio lembra o ocorrido em agosto, quando Trump emitiu um ultimato a Putin para aceitar uma trégua, mas acabou marcando o primeiro encontro oficial entre ambos em seu novo mandato, realizado no Alasca. Nesta segunda-feira (20), os responsáveis pela organização da reunião — o chanceler russo Serguei Lavrov e o secretário de Estado americano Marco Rubio — também conversaram por telefone, mas ainda sem confirmar uma data para o encontro preparatório.
Um dos principais impasses é o conteúdo das negociações. Desde a conversa de agosto, Putin teria sinalizado disposição para trocar regiões do sul ucraniano que não controla totalmente — Zaporíjia e Kherson — pela consolidação do domínio sobre Donetsk, no leste. A proposta foi rejeitada por Zelenski, que considerou o acordo extremamente desfavorável.
Trump chegou a defender que a Ucrânia retomasse todos os territórios perdidos, incluindo a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, mas logo reviu o posicionamento. Em encontro recente com Zelenski, o americano teria sugerido que o líder ucraniano aceitasse a perda de parte do território para evitar mais destruição.
Nos últimos dias, Trump declarou publicamente que não acredita na vitória militar da Ucrânia, enquanto Zelenski passou a defender o congelamento das linhas de combate como base para futuras negociações. Essa proposta recebeu apoio de aliados europeus, e, em um comunicado conjunto, Alemanha, França, Reino Unido e União Europeia manifestaram respaldo aos esforços de Trump por um cessar-fogo imediato, indicando que a atual linha de frente deveria servir como ponto de partida das tratativas.
Outro obstáculo é logístico. A escolha de Budapeste como sede do encontro se deve à proximidade política do premiê húngaro Viktor Orbán com ambos os líderes, mas a viagem de Putin enfrenta restrições severas. As sanções europeias proíbem aviões russos de sobrevoar o espaço aéreo da maior parte do continente. A rota mais direta até a Hungria passaria pela Polônia, cujo governo reiterou nesta terça-feira que não permitirá o sobrevoo da aeronave presidencial russa, ameaçando interceptá-la e prender Putin caso ele entre no território polonês, com base nas acusações de crimes de guerra movidas pelo Tribunal Penal Internacional.
Com isso, o Kremlin estuda trajetos alternativos, incluindo o sobrevoo pelo mar Negro e entrada pela Bulgária, que aceitou autorizar a passagem, seguida da Sérvia, aliada russa e fora da União Europeia, até finalmente alcançar a Hungria.
Enquanto isso, o conflito na Ucrânia continua. Tropas russas avançam no leste, e um recente bombardeio na região de Tchernihiv, ao norte, deixou centenas de milhares de pessoas sem energia elétrica, num novo ataque à infraestrutura energética ucraniana às vésperas do rigoroso inverno do hemisfério norte.