O Autódromo de Monza completa 103 anos de existência em setembro deste ano. Ele é o circuito não oval mais antigo do mundo em operação. Foi construído em 1922. Em minha carreira de jornalista, tive a oportunidade de dirigir em diferentes autódromos: Enzo e Dino Ferrari (Imola, Itália); Paul Ricard (Le Castellet, França); Circuito do Algarve (Portimão, Portugal); e Laguna Seca (Monterey, Estados Unidos), para citar apenas alguns. Nenhuma dessas pistas, porém, conseguiu rivalizar, em arrebatamento ao dirigir, com Interlagos, na minha opinião.
Na comparação, o circuito paulista leva vantagens sobre os outros pelo fato de ter sido minha sala de aula, onde aprendi a pilotar, no Roberto Manzini Centro Pilotagem, e também um lugar onde voltei e volto diversas vezes. Conheço bem curvas, retas, zebras e relevo de Interlagos (e também as áreas de escape).
Mas, quando participei do lançamento do pneu Pirelli PZero, em maio passado, e dirigi em Monza, encontrei uma pista tão empolgante quanto Interlagos.
Essa experiência em Monza vai ficar em minha memória para sempre. Não que as outras, em outras pistas, não tenham ficado. Mas Monza terá um lugar de destaque.

Conheci Monza ao volante de um Porsche 911 GT3 RS. O piloto da fábrica que me acompanhou, sentado no banco do passageiro, perguntou se eu já havia estado ali e eu respondi que sim. Mas apenas como espectador, na Tribuna Centrale, a arquibancada mais antiga da pista, bem em frente aos boxes, de onde eu assisti ao GP da F1, em setembro de 1995. Dirigir na pista seria a primeira vez, reforcei.

O instrutor foi econômico nas palavras. Disse apenas que aquele Porsche era como um carro de corrida e que era importante eu frear quando ele me falasse para frear. Ok, respondi.
Saí dos boxes devagar, mas na reta de acesso à pista já estava bem mais rápido do que eu havia planejado. Antes de arrancar, combinei comigo mesmo que daria a primeira volta de reconhecimento. Mas quem consegue ficar indiferente à aceleração do motor de 525 cv do GT3 RS? Se é que aquela unidade tinha “só” isso.
O modelo era preparado para pistas. Tinha bancos concha, santantônio. Talvez seu boxer 4.0 de seis cilindros também estivesse anabolizado. Meu carona também não se importou com minha disposição em acelerar e aparentemente estava tão entusiasmado quanto eu, passou a me dar uma única instrução: “full-throttle, full-throttle” (em tradução livre: pisa fundo).

Mesmo assim, esperei completar a primeira volta para acreditar nos comandos do meu copiloto, que não pediu uma vez sequer para eu frear. Já me sentindo à vontade e incentivado pelos repetidos full-throttle, full-throttle, cheguei ao final da reta principal a 274 km/h, até onde consegui olhar para o velocímetro. À minha direita a placa de 300 metros antes da curva havia ficado para trás, em um piscar de olhos.

Pisei fundo no freio, reduzi da sétima para terceira marcha e acelerei o carro rumo à primeira curva à esquerda. Logo depois havia uma gincana, na qual eu pensei ter entrado muito afoito, mas que nada, para minha grata surpresa, o carro obedeceu sem hesitar. Fiz as tangências e segui acelerando no próximo trecho. A outra reta da pista passa sob uma ponte e essa cena me remeteu ao filme Grand Prix (direção de John Frankenheimer, de 1966), que foi filmado ali.
A cena é de um acidente, mas essa imagem não me inibiu, ao contrário, serviu de estímulo para eu seguir acelerando, até que ao final da quarta volta meu instrutor disse “good job” (bom trabalho) e avisou que deveríamos voltar para os boxes. Saí do carro agradecido, mas querendo ficar.

