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Professora negra perde vaga na USP após acusações baseadas em fotos de redes sociais

Por Brasil Direto

A doutora em Literatura Érica Cristina, de 45 anos, aprovada em primeiro lugar para o cargo de professora na Universidade de São Paulo (USP), teve sua posse anulada após um grupo de seis candidatos apresentar um pedido de contestação ao resultado do concurso. Única mulher negra entre os concorrentes à vaga de docente em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Érica relatou que os demais participantes questionaram a imparcialidade da banca avaliadora, sustentando acusações que ela considera infundadas e frágeis.

Os opositores apontaram uma suposta amizade entre Érica e duas das cinco professoras que integravam a comissão examinadora, além de colocarem em dúvida sua formação acadêmica e sua produção científica. O caso foi encaminhado tanto ao Ministério Público (MP) quanto à própria universidade, com um pedido de anulação do processo seletivo. Segundo a docente, o MP não encontrou irregularidades, mas, mesmo assim, a USP optou por cancelar sua nomeação.

Ela explicou, em vídeos publicados nas redes sociais, que a decisão da universidade se apoiou em seis fotografias retiradas de redes sociais, registradas entre 2019 e 2022, durante eventos acadêmicos realizados em congressos no Rio de Janeiro, em Moçambique e em Natal (RN). As imagens, que mostram grupos de pesquisadores da área, foram consideradas pela instituição como indício de “amizade íntima” entre ela e as avaliadoras. Érica argumentou que essas fotos não demonstram laços pessoais, mas apenas interações profissionais em um campo de estudo restrito, onde a presença recorrente dos mesmos pesquisadores é comum.

A professora afirmou ainda que, quando foi comunicada da abertura de um processo administrativo que poderia anular sua nomeação — oficializada em junho do ano passado —, enviou uma manifestação por e-mail, acompanhada de um documento jurídico elaborado por sua defesa. No entanto, ela declarou que o material não foi incluído no processo analisado pela universidade.

Em seus relatos, Érica criticou a decisão da USP por ter validado acusações frágeis e, ao mesmo tempo, negado seu direito à ampla defesa. A anulação do concurso foi formalizada em março deste ano.

Em nota oficial, o diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Adrián Pablo Fanjul, afirmou que havia indícios de proximidade entre a candidata aprovada e integrantes da banca, baseados em publicações em redes sociais que traziam fotos e legendas com expressões de amizade. Ele destacou que a decisão foi tomada pelo Conselho Universitário da USP, e que, por isso, a faculdade não teria autonomia para revertê-la, sendo possível apenas recorrer à Justiça.

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