O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu que Israel poderá perder o apoio de Washington caso avance com planos de anexar a Cisjordânia ocupada. As declarações, dadas em 15 de outubro e publicadas nesta quinta-feira (23) pela revista Time, reforçam o posicionamento do governo norte-americano diante do conflito no Oriente Médio.
Segundo Trump, os acordos firmados com países árabes impedem qualquer movimento israelense nesse sentido. Ele ressaltou que não permitirá a anexação, lembrando que seu governo construiu um forte apoio entre as nações árabes, o qual poderia ser comprometido caso Israel siga adiante com a medida.
O republicano ainda declarou que a Arábia Saudita deve integrar, ainda neste ano, os Acordos de Abraão, que restabeleceram relações diplomáticas entre Israel e alguns países árabes. Trump afirmou acreditar que as tensões anteriores dos sauditas com Gaza e com o Irã foram superadas, abrindo caminho para o avanço das negociações.
O vice-presidente americano, J.D. Vance, também se pronunciou sobre o tema, assegurando que Israel não deverá formalizar a anexação da Cisjordânia, território palestino ocupado desde 1967. A fala veio após o Parlamento israelense (Knesset) aprovar, em primeira votação, duas propostas de lei que criam as bases para esse processo.
Durante o encerramento de sua visita a Israel, Vance considerou a manobra política “inoportuna” e demonstrou incômodo com o gesto do Legislativo israelense. A visita teve como objetivo preservar o acordo de paz entre Tel Aviv e o grupo Hamas, após uma sequência de bombardeios e violações do cessar-fogo.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, respondeu às declarações afirmando que Israel é uma nação livre, onde diferentes opiniões podem ser expressas. No entanto, garantiu que o governo mantém compromisso com o cessar-fogo e que, por enquanto, não apoiará o avanço das propostas de anexação.
A primeira proposta aprovada prevê que as leis e a soberania de Israel sejam aplicadas integralmente sobre toda a Cisjordânia, que hoje é administrada parcialmente pela Autoridade Palestina. Já a segunda medida trata da incorporação de um assentamento próximo a Jerusalém, com apoio inclusive de partidos de centro. Ambas ainda precisam ser votadas três vezes no Parlamento antes de entrarem em vigor.
Desde 2022, a expansão dos assentamentos tem se acelerado sob o governo de Benjamin Netanyahu, considerado o mais conservador da história do país. Membros de sua coalizão pressionam para que a anexação ocorra como resposta à recente onda de reconhecimento diplomático do Estado da Palestina promovida por países como Reino Unido, França e Canadá.
Apesar disso, Netanyahu tenta evitar choques diretos com Washington. Em uma coletiva conjunta com Vance, o premiê rejeitou a ideia de que Israel seria submisso aos Estados Unidos, destacando que a relação entre os países é uma aliança entre parceiros que compartilham valores comuns.
Vance reforçou esse ponto, afirmando que os EUA veem Israel como um aliado estratégico, e não como um Estado subordinado.
O chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, também se manifestou, alertando que o avanço das propostas no Knesset pode colocar em risco o já frágil acordo de cessar-fogo. Segundo ele, Trump deixou claro que não apoiará a anexação neste momento, considerando-a uma ameaça à estabilidade da região.
Rubio e Vance integram um grupo de enviados de alto escalão de Trump que têm viajado a Israel para tentar evitar o colapso do acordo de paz.
Nesta quinta (23), tanto Washington quanto Tel Aviv criticaram o parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que responsabilizou Israel por garantir as necessidades básicas da população civil de Gaza. Em resposta, o governo israelense afirmou que cumpre integralmente suas obrigações internacionais.
Durante a madrugada, moradores de Gaza relataram novos bombardeios em Khan Yunis, no sul, e na capital. O Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas, informou que uma pessoa morreu em decorrência do fogo israelense. Na segunda (20), outras três mortes haviam sido registradas após ataques das Forças Armadas de Israel, que alegaram ter atingido “terroristas” que ultrapassaram o limite territorial definido no cessar-fogo.