O Vaticano reafirmou oficialmente que Jesus Cristo é o único redentor da humanidade e que a Virgem Maria não deve ser chamada de “corredentora”. A decisão está em um decreto aprovado pelo papa Leão XIV e publicado nessa terça-feira (4/11), no qual a Igreja Católica reforça que a salvação é obra exclusiva de Cristo e que qualquer formulação diferente pode gerar interpretações equivocadas sobre a fé cristã.
O documento, intitulado Mater Populi Fidelis (Mãe do povo fiel), foi elaborado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé – órgão responsável por zelar pela integridade da doutrina católica – e encerra uma discussão teológica que se arrastava há décadas. O texto adverte que o termo “corredentora” pode “criar confusão e desequilíbrio” ao sugerir que Maria teria participado de forma direta na redenção da humanidade, o que, segundo o Vaticano, contraria o papel único e central de Cristo.
O decreto reconhece o papel especial da Virgem Maria como mãe de Jesus e “intercessora entre Deus e os homens”, mas ressalta que sua missão é subordinada à de Cristo. “Não seria apropriado usar o título ‘corredentora’, pois corre o risco de obscurecer a única mediação salvífica de Cristo”, afirma o texto.
Segundo o Dicastério, o objetivo é preservar a clareza da fé e evitar interpretações que possam “desviar o sentido central da salvação cristã”. O documento alerta ainda para o perigo de uma “mariolatria” – uma devoção excessiva à figura de Maria que a colocaria em posição de igualdade com Jesus.
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Papa Leão XIV publica foto segurando imagem de Nossa Senhora Aparecida
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Debate histórico dentro da Igreja Católica
A discussão sobre os títulos atribuídos à Virgem Maria não é nova. Durante o século XX, teólogos e fiéis pediram ao Vaticano que declarasse Maria como “mediadora de todas as graças” ou “corredentora”. O então cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornou o papa Bento XVI, rejeitou a proposta por considerar que o conceito “não estava maduro” e se afastava da linguagem bíblica.
O papa João Paulo II chegou a empregar a expressão “corredentora” em alguns discursos, mas deixou de utilizá-la a partir dos anos 1990, após o Escritório para a Doutrina da Fé manifestar reservas quanto à sua precisão teológica. Bento XVI, por sua vez, reforçou que Maria é “abençoada entre as mulheres”, mas que “tudo o que ela é procede de Cristo”.
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Francisco, que faleceu em abril deste ano, foi um dos mais firmes opositores do título. Em várias ocasiões, o pontífice chamou de “loucura” a ideia de considerar Maria como corredentora e insistiu que ela sempre se apresentou apenas como discípula do Filho. “O Redentor é um só, e esse título não se duplica”, disse ele em uma de suas homilias.
A nota doutrina aprovada por Leão XIV segue essa mesma linha. O texto destaca que Maria deve ser venerada como “mãe, serva e discípula”, reconhecendo sua presença singular na vida dos fiéis, mas sem que isso a iguale ao Filho de Deus. “A obra redentora de Cristo é perfeita e não necessita de acréscimos”, afirma o decreto.
O documento também explica que, embora algumas expressões populares sobre Maria possam ser compreendidas de forma simbólica, como o uso da palavra “graças” para designar sua ajuda materna, é preciso evitar que elas se tornem fonte de confusão teológica.