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COP30 à vista: Brasil registra maior redução de gases-estufa em 16 anos

Por Brasil Direto

O Brasil emitiu 2,14 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (GtCO2e) em 2024, registrando uma redução de 16,7% em relação a 2023, a maior queda observada nos últimos 16 anos. Ao considerar as remoções de carbono realizadas pelas florestas, as emissões líquidas ficaram em 1,48 GtCO2e, 22% abaixo do volume do ano anterior. Apesar do recuo, especialistas alertam que o país ainda não deve atingir sua meta climática de 2025.

Os números constam da nova coleção do Seeg (Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), elaborada pelo Observatório do Clima e divulgada nesta segunda-feira, 3, às vésperas da COP30, que será realizada em Belém.

O compromisso brasileiro perante o Acordo de Paris era limitar as emissões líquidas a 1,32 GtCO2e em 2025. No entanto, as projeções indicam que o país deve chegar a 1,44 GtCO2e até o fim deste ano, cerca de 9% acima do alvo estabelecido. Esses cálculos consideram o desmatamento e a tendência das emissões nos demais setores econômicos. Pesquisadores destacam que o aumento da poluição por gás carbônico durante o governo de Jair Bolsonaro, com altas de 19% em 2019, 8% em 2021 e 2% em 2022, afastou o país da meta. O relatório do Seeg aponta que, embora o governo Lula tenha tentado recuperar os impactos desses anos, o resultado não foi suficiente para atingir o objetivo climático.

A maior redução histórica ocorreu nas emissões brutas relacionadas à mudança do uso da terra e florestas, que caíram 32,5%, passando de 1,34 GtCO2e em 2023 para 906 MtCO2e em 2024, com 98% dessas emissões originadas pelo desmatamento. O desmate representou 42% das emissões totais do país. A queda se deve principalmente à diminuição do desmatamento na Amazônia, que registrou 5.796 km² entre agosto de 2024 e julho de 2025, o terceiro menor valor da história, resultando em 33% de redução nas emissões do bioma, de 889 MtCO2e para 525 MtCO2e.

O Cerrado também apresentou queda significativa, com 207 MtCO2e emitidas, 41% abaixo do registrado em 2023, reflexo das ações de comando e controle que reduziram a área desmatada ao menor patamar em cinco anos. Ao descontar a absorção de carbono pelas florestas, o desmatamento líquido foi de 249 MtCO2e, o menor nível desde o início dos registros, uma redução de 64% em relação a 2023.

Entretanto, os pesquisadores alertam que as emissões provocadas por queimadas, que não entram no inventário oficial de gases de efeito estufa, somaram cerca de 241 MtCO2e, valor quase equivalente ao do desmatamento, o que, se incluído, quase dobraria as emissões líquidas do setor. O fenômeno foi impulsionado pelas mudanças climáticas e evidenciado pelos dados do Inpe, que indicam que 38% da área degradada na Amazônia em 2024 ocorreu por “degradação progressiva”, categoria que inclui queimadas. Segundo Bárbara Zimbres, do Ipam, essa divergência entre desmatamento e fogo demonstra que as mudanças climáticas já estão afetando de forma preocupante as florestas.

Entre os biomas brasileiros, apenas o Pampa apresentou aumento nas emissões, com 6% a mais que em 2023. O Pantanal reduziu suas emissões em 66% após o recorde de estiagem em 2023, enquanto a Mata Atlântica e a Caatinga mantiveram números relativamente estáveis, com quedas de 1% e 2%, respectivamente.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, destacou que a redução expressiva das emissões brasileiras oferece um trunfo ao governo Lula na COP30, mesmo diante da previsão de não cumprimento da meta de 2025. Ele ressaltou que, comparado aos países do G20 e aos dez maiores emissores mundiais, nenhum apresentará reduções semelhantes neste nível.

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