A venda de armas, acessórios táticos e roupas camufladas pela internet tem se tornado uma ameaça crescente à segurança pública no Brasil. Plataformas especializadas e grandes marketplaces estão sendo utilizadas para comercializar armamentos, miras, coldres e equipamentos parecidos aos usados por integrantes de forças como Exército, Marinha, Aeronáutica e diversas polícias país afora.
Embora muitos desses itens não sejam ilegais isoladamente, seu uso por civis levanta sérias suspeitas quando associado a atividades criminosas. Na megaoperação desencadeada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, no último dia 28/10, dezenas de integrantes do Comando Vermelho (CV) mortos em confronto com policiais trajavam fardamento camuflado.
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Roupa camuflada com o preço
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Roupa camuflada
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Divulgação em um site
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Pistola Taurus
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Venda de arma pela internet
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Munição vendida pela internet
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Megaoperação no Rio de Janeiro:
- O debate sobre o comércio ilegal de armamentos ganhou novo fôlego após a megaoperação realizada no Rio.
- A operação resultou em 121 mortos, entre eles quatro policiais — dois civis e dois militares.
- A ação apreendeu 118 armas, sendo 91 fuzis de uso restrito, e levou à prisão 113 pessoas.
- Um dos presos é Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, apontado como braço direito de “Doca”, líder do Comando Vermelho.
- A operação escancarou a força do tráfico e o poder de fogo das facções que se abastecem de armas vindas de dentro e fora do país.
Controle de armas
Segundo a delegada substituta da Receita Federal Juliana Guimarães, da Alfândega do Aeroporto Internacional de Brasília, toda arma que entra legalmente no Brasil passa obrigatoriamente pela Receita, responsável por verificar a regularidade do processo de importação.
“Trazer armamentos para o país não é algo simples. O processo é rigoroso, envolve o Exército e exige diversas licenças específicas”, explicou a delegada.
Apesar desse controle, armas de grosso calibre raramente ingressam por vias legais, o que reforça a importância de fiscalizações intensivas em rotas aéreas e marítimas.
Por isso, Juliana Guimarães reforça: “Devido à natureza sensível desses materiais, sua entrada no país só é autorizada após a anuência prévia dos órgãos competentes, formalizada por meio de uma Licença de Importação (LI).”
No caso de armas, munições, explosivos e itens de uso restrito, a autorização cabe ao Exército Brasileiro, que atua como órgão anuente — ou seja, responsável por avaliar e autorizar a entrada ou saída desses produtos no comércio exterior, assegurando o respeito às normas legais e técnicas vigentes.
Roupas camufladas e acessórios
A comercialização de fardamentos camuflados e equipamentos táticos — como mochilas, coletes e coturnos — ocupa uma zona cinzenta da legislação. Embora a venda não seja crime, o uso de uniformes que imitam trajes oficiais é proibido. O artigo 46 da Lei das Contravenções Penais prevê prisão simples para quem utiliza publicamente insígnias ou uniformes militares sem autorização.
Autoridades alertam que grupos criminosos vêm adotando esse tipo de vestimenta para confundir a população e dificultar a identificação durante operações, o que aumenta o risco de confrontos e coloca em perigo tanto civis quanto policiais.
Fiscalização e tráfico de armas e acessórios
A fiscalização digital é hoje um dos maiores desafios no combate ao tráfico de armas e acessórios. Embora plataformas afirmem cooperar com as autoridades, muitas vendas ocorrem em sites estrangeiros, redes sociais e aplicativos de mensagens, onde o rastreamento é limitado e o controle praticamente inexistente.
O enfrentamento dessa nova realidade exige integração plena entre Polícia Federal, Receita Federal e Exército, além de cooperação internacional permanente.
A tecnologia tem papel central nesse combate — mas, sem ação coordenada e resposta rápida, o comércio virtual continuará sendo uma porta de entrada para o armamento ilegal que abastece o crime organizado no Brasil.