Neste primeiro dia de Cúpula de Líderes da COP3O, a Cúpula do Clima, a palavra não ficou somente com as lideranças e representações dos países participantes. Para chegar a consensos e acordos contra a emergência climática, é preciso ouvir a ciência.

Nesta quinta-feira (6), em Belém, a secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo, foi enfática ao dizer que não dá para negar o que ocorre em todo o planeta. Ela citou as mudanças que a vida na terra já sofre, em fala traduzida oficialmente pela conferência.
“A temperatura média em janeiro de 2025 foi de mais ou menos 1,42°C acima de níveis pré-industriais. As concentrações de gases de aquecimento são de 800 milhares de partes, e isso está levando nosso mundo para um futuro muito mais quente e perigoso.”
Celeste Saulo destacou que a ciência não mente. Ela defendeu a importância do Acordo de Paris para que a situação do planeta não chegue a níveis piores. Também disse que ainda há tempo de adotar ações para salvar o clima.
“Será praticamente impossível limitar o aquecimento global em 1,5°C nos próximos anos sem realmente atingir as metas do Acordo de Paris. E cada ponto desse grau é importante, é significativo. Mas há progresso realmente tangível em todo o mundo.”
Também nesta quinta, a especialista enviada da presidência da COP30 para Oceanos, Marinez Scherer, foi mais uma voz pela ciência, desta vez em defesa da vida marinha. Bióloga da Universidade Federal de Santa Catarina, ela falou aos líderes em inglês. O discurso de Scherer, também traduzido oficialmente pelo evento, defendeu financiamentos para a preservação dos oceanos, que pedem socorro. Segundo a bióloga, o financiamento climático destina poucos recursos para esses biomas.
“O aumento do nível do mar, acidificação, águas mais quentes, problemas de oxigênio, como também ecossistemas em colapso. Tudo isso danifica essas economias litorais. Se nos mantivermos no nosso caminho atual, as regiões litorâneas arriscam perder até 20% do seu PIB até o final do século, desde o aumento do nível do mar somente. Isso não é um problema de amanhã, mas, sim, é um perigo de hoje, social e econômico. E mesmo assim, menos de 1% do financiamento climático apoia soluções oceânicas. Isso precisa mudar.”
Marinez Scherer celebrou a COP30, em Belém, como o ponto de encontro de dois gigantes: a Floresta Amazônica e o Oceano Atlântico. Segundo ela, há soluções viáveis para progredir na conservação dos oceanos, que são importantes para o equilíbrio da vida na Terra e para a sustento de famílias em todo o mundo.
“O cenário onde o futuro da humanidade será decidido cobre 70% do nosso planeta e é o coração pujante desse sistema climático. Ele produz mais da metade do nosso oxigênio, absorve 90% do calor excedente das nossas emissões, captura um quarto do CO2 global e regula o clima, como a precipitação também. Ignorar esses serviços significa comprometer o nosso futuro.”
As duas cientistas foram as primeiras a falar na abertura da COP30, em Belém, nesta quinta.