Uma megaoperação deflagrada nesta quarta-feira (5) levou à interdição de 49 postos de combustíveis nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins, em uma ofensiva que expôs a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis.
A ação, batizada de Carbono Oculto 86, faz parte de um desdobramento de investigações que apuram a lavagem de bilhões de reais por meio de empresas de fachada e fundos de investimento.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), o grupo criminoso estruturou um sofisticado esquema financeiro envolvendo fintechs, holdings e companhias fantasmas para movimentar valores de origem ilícita. As investigações apontam que cerca de R$ 5 bilhões circularam pelo sistema, sendo R$ 300 milhões apenas em transações de crédito dentro do Piauí.
A operação teve início após a venda da Rede de Postos HD, com unidades distribuídas pelos três estados, em dezembro de 2023. A compra foi feita pela Pima Energia e Participações, empresa criada apenas seis dias antes da transação — o que levantou suspeitas imediatas.
Durante a apuração, a polícia detectou mudanças simultâneas de sócios e inconsistências patrimoniais, além da abertura de empresas com endereços em avenidas de alto padrão de São Paulo, mas sem capacidade econômica compatível. Um dos indícios mais fortes de ligação com o PCC foi um depósito de mais de R$ 700 mil feito por um dos investigados para uma empresa controlada por um “laranja” já citado na Operação Carbono Oculto.
Segundo o órgão, o PCC estruturou no Piauí uma célula financeira independente, espelhando o modelo usado nacionalmente para infiltrar-se em setores da economia formal sob aparência de negócios legítimos.
Entre os 49 estabelecimentos interditados, estão unidades em Teresina, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Miguel Leão, Altos, Picos, Canto do Buriti, Dom Inocêncio, Uruçuí, Parnaíba e São João da Fronteira. No Maranhão, as ações se concentraram em Peritoró, Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras, enquanto no Tocantins, um posto foi fechado em São Miguel do Tocantins.
A Carbono Oculto é uma operação de caráter nacional, conduzida em parceria entre a Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público de São Paulo e Polícia Militar paulista. No total, o esquema que deu origem à investigação movimentou mais de R$ 52 bilhões por organizações criminosas, de acordo com estimativas oficiais.
Em agosto, uma força-tarefa com 1.400 agentes realizou uma etapa anterior da operação em São Paulo, atingindo empresas da área financeira e distribuidoras de combustíveis da região da Faria Lima.
A investigação revelou que pelo menos 267 postos ainda em atividade teriam movimentado R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas pagaram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais, o equivalente a 0,1% do total. O esquema também teria ramificações em empreendimentos imobiliários, motéis e redes de franquia.
Em resposta às descobertas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a criação de uma delegacia especializada da Receita Federal voltada exclusivamente ao combate ao crime organizado. A pasta também publicou uma portaria com novas regras para importações e compra de combustíveis, reforçando o controle aduaneiro e priorizando investigações sobre crimes tributários e financeiros.
Com o avanço da Carbono Oculto, as autoridades buscam desmantelar o braço financeiro do PCC, que vem se infiltrando em negócios aparentemente regulares para movimentar e disfarçar recursos oriundos do crime.