Desde sua estreia na semana passada no Prime Video, a série “Tremembé” tem movimentado debates e dividido opiniões. A produção retrata o cotidiano do famoso presídio paulista que leva o mesmo nome — conhecido por abrigar alguns dos criminosos mais notórios do país — e reacendeu discussões sobre os limites entre ficção e realidade.
Um dos pontos que mais geraram controvérsia envolve a figura de Cristian Cravinhos, condenado pelo assassinato do casal Manfred e Marísia Von Richtofen, em 2002. Na trama, o personagem interpretado por Kelner Macêdo vive um relacionamento amoroso com Duda, outro detento, representado pelo ator João Pedro Mariano. Segundo a narrativa, o casal se aproxima dentro do presídio e enfrenta crises de ciúmes ao longo do romance, que chega ao fim quando Cravinhos deixa Tremembé para cumprir o restante da pena em regime aberto. O enredo tem como base relatos presentes em uma das obras do jornalista e roteirista Ulisses Campbell.
A repercussão, porém, foi imediata. Cravinhos se manifestou nas redes sociais afirmando que o seriado não condiz com a realidade. Em publicações feitas no Instagram, ele teria dito que praticamente tudo mostrado na série é falso e que a produção teria distorcido fatos “em busca de audiência”.
O roteirista respondeu de forma contundente. Em uma postagem, exibiu objetos que, segundo ele, comprovam a veracidade da história — entre eles, uma calcinha supostamente usada por Cravinhos e uma carta escrita de próprio punho para Duda, datada de 12 de junho, Dia dos Namorados. Campbell afirmou que, no jornalismo, apenas relatos gravados não bastam para publicar histórias delicadas e que, em casos controversos, é essencial apresentar provas materiais.
A série também expõe um episódio envolvendo a detenta Suzane Von Richtofen e o apresentador Gugu Liberato. Em 2015, Gugu teria enviado à presa três máquinas de costura avaliadas em R$ 36 mil, após ela mencionar em entrevista as dificuldades de trabalho no ateliê do presídio. No entanto, os equipamentos não puderam permanecer na unidade e acabaram sendo enviados para a casa de um familiar de outra detenta, Sandrão, com quem Suzane mantinha uma relação. O caso resultou em uma disputa entre as duas, e o destino das máquinas segue desconhecido.
Outra figura pública que reagiu ao lançamento da produção foi Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella Nardoni. Ela afirmou que não pretende assistir à série, explicando que, embora o enredo aborde sua história, reviver visualmente as cenas do crime seria emocionalmente doloroso. A mãe da vítima destacou ainda a necessidade de se preservar emocionalmente e manifestou preocupação com o modo como criminosos são retratados em produções de entretenimento.
Segundo ela, há um risco real de transformar figuras condenadas em celebridades e de suavizar a gravidade dos crimes cometidos. Por isso, defendeu mais responsabilidade ao abordar histórias que envolveram sofrimento real.