A chefe de gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), realizou na última semana uma vistoria nas dependências do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. A visita, feita por Cristina Kusahara, ocorreu poucos dias antes do julgamento dos primeiros recursos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros seis condenados por participação na tentativa de golpe de 2022.
De acordo com três fontes ligadas ao sistema penitenciário do Distrito Federal, Cristina visitou três áreas diferentes do complexo, acompanhada da juíza Leila Cury, titular da Vara de Execuções Penais (VEP) do DF. A inspeção durou várias horas, com maior atenção ao PDF 1 (Penitenciária do Distrito Federal 1), unidade de regime fechado que abriga a ala de segurança máxima e possui espaços voltados à reintegração social, visitas íntimas, aulas e atividades previstas na Lei de Execuções Penais.
Segundo relatos, a comitiva percorreu blocos de segurança média e máxima e depois se dirigiu ao 19º Batalhão da Polícia Militar, conhecido como “Papudinha”, onde o ex-ministro Anderson Torres esteve preso preventivamente. A presença da auxiliar de Moraes mobilizou todo o corpo de segurança do PDF 1, e os representantes do presídio apresentaram instalações reservadas para prisões especiais.
Apesar das especulações, Cristina Kusahara não revelou o motivo da visita nem indicou quem poderia ser transferido para o presídio, embora o momento da inspeção tenha reforçado rumores sobre a possível prisão de Bolsonaro após o fim da tramitação dos recursos no STF.
O gabinete de Alexandre de Moraes não se pronunciou oficialmente sobre a diligência. Já o Tribunal de Justiça do Distrito Federal informou, em nota, que a juíza Leila Cury realiza vistorias regulares nas unidades prisionais, conforme prevê a legislação, e esclareceu que nenhum processo de execução penal relativo aos atos de 8 de janeiro foi delegado à VEP, cabendo exclusivamente ao ministro Moraes definir o destino dos condenados.
Governo do DF pede avaliação médica de Bolsonaro
A movimentação em torno da Papuda levou o Governo do Distrito Federal a adotar medidas preventivas. Na segunda-feira (3), o secretário de Administração Penitenciária, Wenderson Souza e Teles, enviou um ofício ao gabinete de Alexandre de Moraes solicitando que Jair Bolsonaro passe por avaliação médica antes de eventual transferência para o sistema prisional.
O documento, revelado pelo portal Metrópoles e confirmado pela reportagem, afirma que o exame seria necessário para verificar se o ex-presidente tem condições de saúde compatíveis com a estrutura médica e nutricional dos presídios do DF. O texto lembra ainda que Bolsonaro foi submetido a diversas cirurgias abdominais nos últimos anos e que, durante o período de monitoramento, chegou a ser atendido por equipes médicas no próprio local de vigilância, evitando deslocamentos de emergência.
Julgamento e possíveis destinos
Os primeiros embargos de declaração — recursos que buscam esclarecer pontos da sentença — serão analisados pela Primeira Turma do STF em sessão virtual a partir de sexta-feira (7). A decisão sobre onde Bolsonaro e os demais condenados irão cumprir pena caberá exclusivamente a Alexandre de Moraes e só será anunciada após a conclusão dessa etapa.
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão por liderar a tentativa de golpe de 2022, tornando-se o primeiro ex-presidente da história do Brasil condenado por crime de golpe de Estado.
Entre os destinos considerados mais prováveis estão uma cela na Papuda, uma unidade da Superintendência da Polícia Federal em Brasília ou o cumprimento da pena em prisão domiciliar. Fontes do STF já descartaram a hipótese de que o ex-presidente seja encaminhado para uma instalação militar, para evitar novas aglomerações ou protestos em frente aos quartéis — como os acampamentos golpistas montados após as eleições de 2022.
A defesa de Bolsonaro tem evitado comentar o tema, afirmando que mantém confiança na reversão da condenação durante o julgamento dos recursos. Entretanto, advogados já preparam laudos médicos para reforçar o pedido de prisão domiciliar, caso a decisão do Supremo seja mantida.