O cardeal Roger Mahony, figura central em antigas controvérsias ligadas ao encobrimento de casos de abuso sexual na Igreja Católica, estará entre os nove cardeais que desempenharão funções ativas no encerramento do caixão e nos rituais fúnebres do Papa Francisco, programados para esta sexta-feira e sábado.
Mahony, que foi arcebispo de Los Angeles, nega ter cometido qualquer irregularidade. No entanto, sua presença na cerimônia tem sido alvo de críticas por parte de grupos que representam vítimas de abusos cometidos por membros do clero.
Anne Barrett Doyle, da organização Bishop Accountability, afirmou em declaração à Reuters: “Sua participação é um desrespeito. Ele deveria sentir vergonha, e o Colégio dos Cardeais também, por permitir que isso ocorra.”
David Clohessy, ex-diretor da rede Survivors Network of those Abused by Priests (SNAP), também expressou preocupação, dizendo que essa escolha envia uma mensagem negativa, indicando que prelados que ocultaram crimes ainda recebem apoio e reconhecimento dentro da própria Igreja.
Em 2013, vieram à tona documentos que sugerem que Mahony e outro integrante da arquidiocese teriam protegido padres acusados de abuso nas décadas anteriores, transferindo-os para instituições psiquiátricas associadas à Igreja, em vez de expô-los à justiça. Na ocasião, Mahony reconheceu falhas em sua conduta e se desculpou por não ter garantido proteção adequada às crianças sob sua responsabilidade. Ainda assim, argumentou que, na época, os procedimentos sobre como lidar com esses casos eram pouco claros até mesmo entre os líderes religiosos.
O atual arcebispo de Los Angeles, José Gomez, chegou a afastar Mahony de todas as atividades públicas e administrativas em 2013, mas posteriormente reviu essa decisão, afirmando que o cardeal continuava tendo um papel respeitado dentro da arquidiocese.
Nesta quinta-feira, a arquidiocese afirmou que o comunicado de 2013 havia sido interpretado de forma equivocada e declarou sentir-se “honrada pela presença do cardeal Mahony” nas cerimônias em homenagem ao Papa.
De acordo com Matteo Bruni, porta-voz oficial do Vaticano, a escolha dos cardeais para a cerimônia foi baseada na antiguidade de seus mandatos. Mahony, atualmente com 89 anos, é um dos mais antigos membros do colégio cardinalício, embora não tenha direito a voto no próximo conclave, já que ultrapassou o limite de 80 anos estabelecido para esse processo.
A missa fúnebre será conduzida pelo cardeal camerlengo, Kevin Farrell, que também supervisionará o fechamento do caixão de Francisco, na Basílica de São Pedro. O sepultamento será realizado na Basílica de Santa Maria Maior. Também estão confirmadas as presenças do decano Giovanni Battista Re, do protodiácono Dominique Mamberti e do arcebispo Mauro Gambetti, entre outros membros do alto clero.