Os híbridos plug-in (PHEV) reúnem o melhor de duas tecnologias. Têm motor a combustão, como os carros comuns, mas também motor ou motores elétricos, além de uma bateria grande o suficiente (não tão grande e pesada quanto a dos elétricos puros), que pode ser carregada em uma tomada externa. Esse sistema garante longa autonomia sem depender de um único tipo de energia e também deslocamentos mais curtos gastando apenas eletricidade, que custa bem menos e não polui (na rodagem). Para quem possui um carregador em casa ou tem fácil acesso a carregadores públicos é o paraíso na terra. Mas há que cuidar.
Considerando que as pessoas comuns rodam prioritariamente nas cidades, em deslocamentos curtos, existe a possibilidade de um PHEV consumir apenas eletricidade, o que pode trazer consequências ruins para o motor a combustão, que vive quase parado e queima gasolina que pode estar envelhecida, no tanque.
Assim como outros produtos, a gasolina também tem prazo de validade, que muda de acordo com o tipo de armazenamento. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) realiza um teste em laboratório, onde uma amostra de gasolina automotiva deve resistir a pelo menos seis horas à indução com o oxigênio. Na prática, cada 60 minutos equivalem a um mês do combustível armazenado nos reservatório dos postos sob condições ideais, fora do contato com a luz, o calor e o oxigênio. Dessa forma, ela pode durar até cerca de seis meses armazenada.

Mas nos tanques dos carros, as condições são piores. O combustível tem mais contato com o ar, acumula umidade e fica mais exposto ao calor, não só do ambiente. Toda gasolina que saiu do tanque, pressurizando as linhas de alimentação do motor e não foi utilizada, porque o carro chegou a seu destino e o motor foi desligado, retorna (com temperatura maior) ao reservatório.
“A gasolina tem características físico-químicas que a fazem começar a deteriorar após algumas semanas. A gasolina parada no tanque começa a evaporar os seus hidrocarbonetos mais leves, ficando a parte mais pesada e perdendo octanagem”, conta o engenheiro Everton Lopes, mentor de Energia a Combustão da SAE Brasil.
No caso da gasolina brasileira ainda há um agravante: a concentração de até 30% de etanol (anidro). “Quanto maior o teor de etanol na gasolina, maior a capacidade dela absorver a água do ar ao longo do tempo”, diz o engenheiro da SAE, lembrando que a água em si não prejudica a combustão, até ajuda. “O problema é que a água aumenta oxidação e corrosão de outros componentes do sistema”, afirma Everton. Apesar de ser higroscópico, o etanol dura mais tempo que a gasolina no tanque, porque resiste mais à deterioração. Portanto, esse combustível não seria o principal problema no caso de um PHEV Flex, que ainda não existe no mercado.
“Fora isso, a gasolina parada por longos períodos gera resíduos, a chamada “goma”, que podem entupir os injetores, por exemplo”, diz o especialista. De acordo com ele, o prazo máximo para se deixar a gasolina no tanque é dois meses, a partir daí a situação começa a ficar mais crítica. E os problemas não são imediatos, mas acumulativos. No início, a goma começa a entupir os injetores, fazendo com que o motor perca potência, já que está recebendo menos combustível. O motorista consegue perceber pelo aumento no consumo.
“A longo prazo, você pode ter corrosão e oxidação do sistema de injeção, que é um ponto bem crítico. Nesse caso você terá que fazer a troca dos injetores, que são itens mais caros, principalmente nos carros modernos com injeção direta. Pode ter também um entupimento do filtro, podendo até fazer o motor apagar de vez”, explica o engenheiro. “Fora outros problemas como a queima da bomba de alta pressão, que é um item bem caro.”
Uma saída para os donos de PHEVs que utilizam o carro majoritariamente na cidade e em modo elétrico é tentar rodar pelo menos uma vez por semana em percursos mais longos, como uma viagem de fim de semana, ou provocando o uso do modo híbrido na cidade. Para isso, basta acelerar o carro de forma mais acentuada nas arrancadas ou rodar em avenidas com velocidade média mais alta. Acima dos 60 km/h o motor a combustão já entra em ação. Mas, pensando no meio ambiente (e no bolso), é um contrassenso usar desse jeito um híbrido feito para poluir menos (e economizar).

Uma dica do especialista é se optar sempre por gasolina aditivada. “Os aditivos vão ajudar a manter o motor mais limpo e sua oxidação é menor”, afirma Everton. Apesar dos benefícios, seu “prazo de validade” não é maior. Ela vai continuar sofrendo os efeitos do tempo, porém os aditivos vão atenuar alguns problemas. Por fim, Everton ainda reforça a importância de abastecer em postos de confiança: “No Brasil, temos um problema sério de combustíveis adulterados, que são ainda mais prejudiciais aos motores”.
Pensando nesse problema, algumas fábricas desenvolveram alertas para o vencimento do combustível. Nos Volvo, há três níveis de atenção: o primeiro pede para o motorista acionar o motor a combustão. O segundo alerta e aciona o motor automaticamente. O terceiro aparece quando a quantidade de gasolina velha é pequena e pede que o tanque seja completado com um novo combustível.
Sistemas parecidos são adotados por outras marcas, como a Renault, em seus PHEV vendidos fora do Brasil. Já nas marcas líderes do segmento em nosso país, BYD e GWM, ainda não há nenhum tipo de aviso ou alerta relacionado ao envelhecimento da gasolina no tanque.