Um estudo recente questiona uma das histórias mais difundidas sobre o Egito antigo: a ideia de que a cidade de Akhenaton, atual Amarna, teria sido abandonada após uma epidemia mortal no século 14 a.C. Pesquisadores que publicaram o trabalho no American Journal of Archaeology analisaram vestígios arqueológicos e bioarqueológicos da região, buscando confirmar ou refutar a hipótese de que uma praga teria causado mortes em massa e a saída repentina da população.
Escavações realizadas entre 2005 e 2022 indicam um cenário distinto do esperado em caso de epidemia. Embora haja registros de doenças crônicas e desgaste físico nos habitantes, não há evidências de um colapso sanitário. Os sepultamentos seguiram padrões tradicionais e não foram encontrados cemitérios emergenciais. Enterros múltiplos foram observados, mas, segundo os arqueólogos, fazem parte de práticas culturais e não de medidas emergenciais frente a uma crise de saúde. Gretchen Dabbs, uma das arqueólogas envolvidas, destacou que a análise dos achados não indica mortalidade elevada por doença contagiosa, e que o abandono da cidade parece ter sido planejado, com a população levando seus pertences de forma organizada.
Akhenaton, que governou o Egito entre 1353 e 1336 a.C., promoveu uma revolução religiosa ao instituir o culto exclusivo ao deus solar Aton, transferindo a capital de Tebas para a recém-construída Akhenaton. Essa mudança enfraqueceu o poder dos sacerdotes de Amon e provocou forte impacto político. Após a morte do faraó, o culto tradicional foi restaurado, seu nome foi removido de cartuchos e estátuas foram destruídas. A cidade perdeu seu status de capital e deixou de ser útil ao Estado.
A hipótese da epidemia surgiu porque Amarna existiu por apenas cerca de 20 anos, e membros da família real morreram durante esse período. Textos hititas mencionam pragas associadas a prisioneiros egípcios, e cartas diplomáticas citavam doenças em outras regiões. Esses elementos foram combinados ao longo do tempo, gerando a impressão de um único evento catastrófico, embora a pesquisa mostre que a conexão entre essas referências não seja tão direta.
Dabbs alerta que é preciso cautela ao interpretar evidências isoladas e aplicar conclusões a contextos específicos. A identificação de patógenos em Amarna, segundo os autores, não prova necessariamente a ocorrência de uma epidemia mortal, pois doenças poderiam ter circulado sem causar mortes em larga escala.
O estudo conclui que fatores políticos e religiosos tiveram papel mais decisivo no destino da cidade do que qualquer doença. A queda de Akhenaton está mais ligada ao término de um reinado controverso e ao restabelecimento da ordem religiosa tradicional do que a uma praga devastadora.